Bateria, criador e criatura: Igor Lima

O instrumento é percussivo, com pratos e tambores dos mais diversos timbres. Quem a opera precisa de foco, coordenação motora, ouvidos e olhos atentos e, principalmente, um talento incrível de gerir tanta informação musical. Esses são, respectivamente, bateria e baterista; criatura e "criador", figuras importantíssimas para os mais variados estilos: jazz, hip hop, rock, funk, pop, entre muitos outros.

Recentemente, mais especificamente no último dia 20 de setembro, comemoramos o Dia do Baterista e, para conhecer mais sobre os anseios e pensamentos desse profissional, conversamos com Igor Lima, músico, podcaster e grande entusiasta da produção independente e autoral da cidade.

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ENTREVISTA

1 - O que o instrumento Bateria representa na sua vida? E ser baterista? Qual o peso (bom, claro) que essa denominação traz para você?

Ser baterista é uma das primeiras afirmações sobre mim mesmo, que trago na memória. Eu era um menino tímido, com baixíssimas habilidades para esporte (pra não dizer inexistentes), bem desajeitado, até um pouco estranho, mas estava, como todos, tentando me encaixar. Foi na Igreja do Evangelho Quadrangular da minha na minha cidade natal, São João Nepomuceno, por volta dos 9 anos de idade, que eu tive contato com essa belezinha de instrumento que me segue até hoje.

Eu digo que me segue porque eu já tentei abandonar, pelos mais diversos motivos, mas nunca consegui. A vida gira, corre, dá piruetas, e, quando eu menos espero, estou lá, sacudindo o cabelo atrás dela.

Eu nem sei se me considero um músico de verdade, nunca fui de estudar, nunca me dediquei direito, não manjo nada de teoria, mas eu pego as baquetas e toco, então, tomo pra mim, com muito orgulho, essa denominação de baterista.

2 - Na sua opinião, quais são os grandes representantes da Bateria no Brasil e por quê? E de Belo Horizonte?

Eu nunca fui muito aficionado por técnica, então também não sou capaz de eleger aqui uma lista com os melhores, mas posso falar de alguns que me tocam. Pra mim, a bateria tem que servir à música, tem que mexer com a gente. Eu detesto solo de bateria e tudo que tem a ver com essa fritação veloz, que mais me parece uma competição olímpica (vai ver é porque eu nunca gostei de esportes rs). Eu gosto de ver a malemolência contida do Pupilo, as misturas  rítmicas do Robertinho Silva, a elegância do Wilson das Neves, a maldade do chimbal do Franklin Paolillo ali no Tutti Frutti e aquela coisa nervosa do Igor Cavalera ali no roots, parece que o mundo vai acabar em tambor, né?

Pensando em BH, apesar de já ter citado o Igor (a gente nem sabe se ainda faz sentido falar dele como baterista de BH, ne? ), eu gostaria de citar um cara que é quase tudo que falei ali em cima: Esdra Ferreira, o Nenem , simples assim.

3 - Quais seriam seus conselhos para entusiastas e aprendizes de bateria que sonham em montar uma banda ou projeto musical?

Melhor repensar, você já viu o tempo que demora pra montar e desmontar tudo aquilo, né?

Agora, falando sério, se você já foi abduzido por esse mundo e a sua ideia é pensar em banda, eu posso te dar um pequeno conselho, procure passar mais tempo ouvindo música e pensando em como aplicar musicalmente o que você estuda e menos tempo tentando bater recordes de velocidade, a não ser que você queira ter um perfil no Instagram só com seguidores bateristas, porque aí já é outra onda.

4 - Qual é ou qual foi seu maior sonho enquanto baterista? Se já tiver realizado, nos conte como foi, se não, nos descreva como ele é.

Eu acho que nunca tive grandes aspirações enquanto baterista, mas  tem uma coisa que me fez muito feliz, que eu vivi bastante na última banda que eu fiz parte, a Papagaio Elétrico, a gente viajava muito pra tocar. 

Rodar o interior de Minas, ir a cidades que você jamais imaginou que iria, conhecer gente que você nunca conheceria e passar todos os perrengues que uma banda passa na estrada, não tem preço, sério.

5 - Para finalizar, escolha uma música da playlist que você construiu, a que é mais marcante pra você, e justifique sua escolha.

Apesar de eu escutar muita coisa aleatória, principalmente hoje em dia, eu escolhi seguir a linha do nosso bom e velho rock’n’roll na hora de montar a playlist. Não tem jeito, ele foi o estilo musical no qual eu pautei a maior parte da minha vida e, sem dúvida, o que mais influenciou meu jeito de tocar. Escolhi músicas em que acredito que a bateria é muito marcante e fez exatamente o seu papel, nem mais, nem menos. É difícil escolher a mais marcante da lista, então vou escolher uma que tem uma boa história, espero que valha. Como eu disse, nunca me dediquei muito ao estudo, mas eu amava metal e queria tocar tão bem quanto aqueles super bateristas que ouvia. Além disso, eu tocava na igreja, o que me exigia dominar, minimamente, outros tantos estilos musicais. Eu estava bem frustrado por não conseguir evoluir, era muito difícil tocar uma música que fosse, de maneira decente, dessas bandas que eu gostava. 

Até que um dia, assistindo MTV, eu vi uma banda composta por caras que pareciam ter vindo direto dos anos 70, com um visual e, principalmente um som que me capturou, eram os Strokes e a música, era Last Nite.

Aquilo mexeu muito comigo, racionalmente eu estava ouvindo um dos piores bateristas que já tinha visto, mas, emocionalmente, era muito bom. Essa música serviu de ponte pra eu procurar os bateristas que me pareceram ser a fonte de inspiração do menino Fabrizio Moretti. Descobri um novo rock, que me conquistou, que eu prefiro até hoje, inclusive. Um rock mais vibrante, menos polido e visceralmente impossível de ignorar, pelo menos pra mim.

Sigo até hoje tocando de uma maneira que considero mais simples, tentando tocar mais pra música e menos pra mim. Tenho a impressão de que quando a bateria tá aparecendo demais, tem alguma coisa fora do lugar, prefiro deixar esse lugar de destaque pros guitarristas, mas aí já é outra história (rs).

Quer conhecer um pouco mais desse contexto? Se liga nessa playlist preparada pelo Igor.


SAIBA MAIS:

Instagram: @igornaduvida

Facebook: Igor Lima

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